
É impossível falar da história da TV brasileira sem mencionar Sílvio Senor

Abravanel, mais popularmente conhecido como Silvio Santos. Um dos maiores comunicadores de massa do Brasil, ele não se destaca só como a personagem que a quarenta e quatro anos invade as casas de todo o país nas tardes de domingo com seu animado programa, mas também, como homem de negócios e empreendedor. E é a história de deste grande comunicador que vou começar a contar agora
Antes da TV.Silvio nasceu na Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, tornou-se camelô ainda na adolescência, não por necess

idade, mas para não ter que depender do pai. Começou comercializando carteirinhas porta título de eleitor, ganhava 50% do valor da venda. Havia procurado trabalho em casas comerciais e repartições, pois tinha formação na Escola Técnica de Comércio, mas o salário ofertado não era tão rentável quanto ao que tinha na Avenida Rio Branco, esquina com a Rua do Ouvidor, seu ponto de camelô. Como a maioria dos que se instalava por ali, ele não tinha licença para trabalhar e contava com a ajuda do irmão Léo para vigiar a intervenção da fiscalização. Certa vez, Léo não conseguiu avisar o irmão a tempo e o diretor de fiscalização da prefeitura queria levá-los ao distrito, mas ele já sabia que Silvio era muito habilidoso no seu ofício e ao invés disso, deu para ele um cartão de um amigo seu que trabalhava na
Rádio Guanabara. Chegando lá, acontecia coincidentemente um concurso de locutores, onde ficou em primeiro lugar e foi contratado como locutor. Como a remuneração inicial na Rádio não era tão satisfatória, Silvio chegou a tentar conciliar o trabalho de locutor, com o de locutor, mas um mês depois Silvio voltou para as ruas.
Anos mais tarde Sílvio foi para São Paulo, convidado por um amigo, para conhecer a cidade e por lá encontrou um amigo locutor com quem havia trabalhado no Rio e ele o informou que a
Rádio Nacional estava precisando de locutores, foi então que procurou Costa Lima, que na época era produtor na rádio, fez o teste e passou. Teria um período de três meses de experiência e o que iria ganhar daria para se manter na cidade por um tempo. Passou então da experiência e por aqui ficou. Conciliava seu trabalho na Rádio Nacional com apresentações de shows nos circos, o que dava-lhe uma rentabilidade ainda maior. Em sua passagem pela Rádio Nacional, Silvio conquistou muitas amizades, entre eles Manoel da Nóbrega, que mais tarde passaria para suas mãos a maior fonte de sua fortuna.
Manoel da Nóbrega entrou em sociedade com um alemão numa empreitada que já funcionava com Cestas de Natal, funcionava da seguinte forma: a pessoa pagava uma mensalidade e no final do ano ia até a loja e escolhia mercadorias da cesta no valor que havia pagado. A diferença do negócio de Nóbrega e do alemão era que ao invés de produtos de Natal eles confeccionavam cestas de brinquedo, que com o tempo tornou-se baú de brinquedos e por fim passou a se chamar "Baú da felicidade". A sociedade entre os dois era da seguinte form

a: o alemão entrava com o capital e Nóbrega ficava encarregado dos anúncios, na Rádio Nacional. Mas Nóbrega acabou sendo enganado pelo alemão que fugiu com o dinheiro das mensalidades e teria que tirar do seu bolso o dinheiro das mensalidades e dos anúncios que havia feito na rádio, foi ai então que Silvio entrou na jogada, ele via que, se bem administrado o Baú da Felicidade teria muito sucesso. Foi então que pediu para o amigo para tomar conta do negócio. Nóbrega não tinha nada a perder e decidiu aceitar sua proposta. Em cinco anos, Silvio simplesmente quadriplicou os lucros do Baú da Felicidade e certo dia, Nóbrega, que não tinha tido experiências positivas com a micro-empresa deu o Baú para Silvio e até hoje o empresário administra com maestria a principal fonte de sua fortuna.
Silvio Santos: o global?Em 1964 o Baú da felicidade já havia se tornado uma grande empresa, e após longo período na rádio, Silvio Santos reso

lveu se lançar na TV, não só porque todos os colegas se adaptavam ao novo meio, mas também por ver a possibilidade de promover ainda mais o Baú. Sabia que a TV Globo na época ficava fechada aos domingos, só abria para transmitir o futebol às 15h, e Silvio sondou a possibilidade de conseguir para si o horário das 12h às 14h, mas havia um grande problema: Manoel da Nóbrega também cobiçava o horário para apresentar a sua “Praça da Alegria”, mas cedeu a Sílvio o horário.
O programa apresentado por Sílvio tinha o formato bem popular, não tinha um nome propriamente dito, mas eram vários quadros, começava ali a saga do “Programa Silvio Santos” que essa época contava com os programas
Show de Calouros; Vamos fazer média; Disco de ouro; Quem sabe mais, o homem ou a mulher; Boa noite Cinderela entre outros, todos os quadros patrocinado pelo Baú da felicidade.
Com o tempo, os comercias do Baú (que era predominante no programa), começaram a ficar maçante para os telespectadores, Silvio chegou a ser orientado a diminuir a

propaganda do carnê. Ele preferiu outro caminho, dividir com outras empresas a publicidade do programa.
A cada ano que se passava, Silvio Santos tornava-se ainda mais popular entre os telespectadores e como sempre foi um visionário que pensava (e realizava) em conquistar ainda mais o seu espaço começou a desejar ter uma TV própria, principalmente quando em 1972, a TV Globo o ofereceu um contrato onde, de certa forma, ele perderia seu poder sobre o programa, ameaçou sair e ninguém mais do que Roberto Marinho interveio por ele, disse que queria que ele permanecesse na empresa, como ele realmente era. Dizem que alta cúpula da TV Globo da época detestou a idéia, pois há muito tempo acreditavam que Silvio não se enquadrava no padrão global. Convencido por Roberto Marinho, ele assinou novo contrato com a Globo por mais cinco anos, mas continuou fazendo programas na
TV Tupi e na
TV Record em São Paulo, mas por baixo dos panos começava uma batalha para realizar o sonho da TV própria.
A batalha pela concessão.Em 1974, dois anos após de ter renovado contrato com a TV Globo, Sílvio Santos criou a “Studios Sílvio Santos Cinema e Televisão”, uma produtora de TV e cinema, de onde passou a gravar seus programas, a partir daquele momento tinha tudo, só faltava a concessão.
Ficou sabendo então que um dos então acionistas da TV Record, João Batista Amaral, quis vender os 50 % que lhe cabia da empresa. Mas naquele momento, ele não poderia comprar as ações. Seu contrato com a Globo continha uma clausula que o impedia de ser acionista de uma outra. Resolveu então, usar um “testa de ferro”: Joaquim Cintra Gordinho, que seria o detentor das ações enquanto perpetuasse o contrato de Silvio com a Globo.
Silvio Santos agia de modo muito sutil para conseguir a sua concessão, começou a citar políticos em seu programa, exaltando importantes nomes do governo militar como Raphael Baldacci, deputado que opinava no ministério das comunicações sobre concessões e General Golbery, o chefe da casa militar da presidência da república.
Até que em 22/12/1975, o presidente General Ernesto Geisel, assinou o documento que outorgava o canal 11 do Rio de Janeiro (TVS) a Silvio Santos. Com isso, ele rompeu seu contrato com a Globo e saiu de lá no dia

05/01/1976 porém continuou com os programas que tinha na TV Tupi e na TV Record e começou a apresentar seu programa na TVS no Rio.
Silvio mantinha um laço com o poder da época, queria a sua própria rede de televisão, quando soube de mais duas concessões de novas redes, entrou na concorrência. Um dos jurados do “Show de calouros” era Carlos Renato, primo da mulher do presidente João Figueiredo, Dulce. E apresentava em seu programa a dupla Don e Ravel, que eram intérpretes de canções que agradavam o militarismo.
Em 1980, Silvio estava bastante preocupado com a crise que se abatia sobre a TV Tupi. Tinha um outro programa na TV Record, mas a Record não era rede e ele precisava de visibilidade nacional, principalmente naquele momento em que batalhava pelo seu canal. Além do mais havia acabado de renovar o contrato que iria vencer em janeiro de 1982, mas a situação da Tupi já era muito difícil, o seu fim já era inevitável.
Em 19 de agosto de 1981, às 10 horas da manhã no auditório do Ministério das Comunicações, em Brasília, houve a cerimônia de assinatura de contrato de concessão de quatro canais ao Grupo Silvio Santos, a
TV Tupi, a
TV Piratini, a
TV Marajoara, a
TV Continental se fundiram então com a irmã mais velha, a
TVS. Surgia ai, o
Sistema Brasileiro de Televisão, o
SBT.

Nasce o SBT , bem parecido com o que ele é hoje.
O SBT nasceu após a assinatura de sua concessão que foi televisionada pelo novo canal, o SBT transmitiu no dia 19 de agosto, o seu próprio nascimento.
Nesta primeira fase de sua rede, Silvio Santos investiu numa programação que fosse o mais popular possível. Muito se aproveitou da TV Tupi, principalmente seu elenco. Em sua fase inicial, foram investidos 40 milhões de dólares na nova rede.
A rede de Silvio foi o responsável pelo primeiro telejornal matutino, era o "Noticentro", onde o âncora Gilberto Ribeiro apresentava o programa de forma despojada, em um clima de bate papo com outros três apresentadores, todos ex-repórteres da TV Tupi. Meses mais tarde o Noticentro passou a ser noturno, quando chegou a atingir 9 pontos no ibope.
Os grandes nomes da TV Tupi ainda estavam no SBT. Modificou-se o visual e mudou a dinâmica dos programas, havia o "Almoço com as Estrelas" com Lolita e Airton Rodrigues, "O homem do Sapato Branco", e o polêmico "O povo na TV" com Wilton Franco. Sílvio investiu também em coisas novas. Destacou-se por consolidar as manhãs com programação infantil, até então as manhãs
eram tradicionalmente dominadas pelos programas femininos. Comprou os direitos autorais do palhaço "Bozo", que deu muito certo, desde então, a grande maioria das emissoras dedicam pela menos uma parte da manhã para os programas infantis. Criou-se também uma outra tradição, uma que permanec
e viva até hoje no SBT, a importação das novelas mexicanas, as duas primeiras foram "Destino" e "Os ricos também choram", esta última com a grande estrela mexicana Verônica Castro. E junto com as novelas Silvio também importou certo seriado, também vinha do México, deu muito trabalho para ser dublado porque apresentava críticas em forma de piadas à situação política daquele país na década de 60 e para ganhar a versão singela e inocente que é transmitida até hoje passou por muitas reformulações, trata-se de El Chavo, que aqui ganhou o nome de "Chaves", o sucesso do programa perdura até hoje, pois ainda é um importante trunfo do homem do baú.
Em 1984 entrava no ar o programa de maior sucesso de Silvio Santos. O maior talvez porque fosse o qu
e mais emocionava os telespectadores. Era "A porta da esperança", que ficou no ar por 13 anos. Todos tinham algum sonho e muitos deles eram realizados pelo apresentador. O programa consistia em trazer populares ao palco do programa e contar o seu sonho, a sua história. Após um momento de suspense, Silvio anunciava: “- Vamos abrir a porta da esperança...” e era revelado atrás de uma porta se o sonho ali contado iria ou não ser realizado. Muita gente era atendida, até mesmo coisas absurdas. Em se tratando de Silvio Santos qualquer imprevisibilidade era esperada.
Em meados de 1985, Silvio começou a cutucar a concorrência, principalmente sua antiga emissora, Rede Globo. Naquele ano, a emissora de Roberto Marinho apresentava como novela das oito, 'Roque Santeiro', um grande sucesso de Dias Gomes e Silvio que nunca foi bobo, resolveu pegar carona naquele sucesso. Comprou uma série chamada “Pássaros Feridos” que fazia sucesso em todo o mundo, que contava a história de uma jovem que se apaixonava por um padre. A polêmica era bem atraente na época, mas o destaque da repercussão da série foi a forma como Silvio a promoveu. Começou a divulgar em seus comerciais para seus telespectadores que assim que terminasse a novela Roque Santeiro mudassem de canal e assistissem a “Pássaros Feridos” diariamente Silvio se comprometia em só colocar a série no ar quando acabasse a novela. Enquanto ela estava no ar o SBT transmitia "a Pantera cor-se-rosa" outro marco na história da empresa.
Esta publicidade é bem parecida com a que Silvio faz hoje com a reprise de “Pantanal”, durante a programação é possível ver, um gerador de caracteres informando assim: “Hoje assim que terminar a novela da Globo A favorita, troque de canal e veja Pantanal.” Aquela publicidade imprevisível, deu muito certo, e o plano de Silvio de desestruturar a grade de shows da “Vênus Platinada” ia de vento em poupa, o SBT apresentava 47% quando Pássaros estava no ar enquanto a Globo amargava duros 27% para o seu padrão de qualidade. Mas muita coisa ainda estava por vir. Aquele era somente o começo de uma guerra que atualmente já não tem a mesma força.
Em breve :
· SBT, O SEGUNDO EM BUSCA DO PRIMEIRO
· MARCAS REGISTRADAS DO SBT
· OS INFANTIS
· SILVIO NA SAPUCAI... E NA GLOBO DE NOVO
· O BRASIL PÁRA PARA ASSISTIR AO VIVO O SEQUESTRO DE SILVIO
· A PUBLICIDADE AGESSIVA
· A AMEAÇA DA RECORD
Fontes:
A FANTÁSTICA HISTÓRIA DE SILVIO SANTOS - Silva, Arlindo
http://www.sbt.com.br/
http://www.observatórioda/imprensa.com.br
http://www.veja.abril.com.br/
Colaborou Leandro Rosa
fotos:
divulgação SBT
http://www.paginadosilvio.com.br/)