segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Uma breve história de Daniel Filho pela TV brasileira.

Para Daniel, somente entrar pela porta principal do antigo cassino da Urca, já era estar em um mundo de sonho, em meio a tantas riquezas, ele era apenas um mero cidadão que passava despercebido, mas que ano mais tarde já era reconhecido, pois a TV Tupi ocupava o prédio do antigo Cassino.
Naquela época os artistas que começavam habitar a TV eram: Hilton Gomes, o apresentador do telejornal Bendix, Aracy Cardoso, a heroína das novelas escrita por Ilse Silveira, Alberto Peres, galã de várias novelas que naquele momento cumprimentava-o sorridente, e Daniel só os tinha visto pela telinha, com imagens borradas enviadas lá pra casa da antena em cima do pão de Açúcar, ninguém imaginava a emoção que ele sentia naquele momento.
Ele já havia trabalhado 5 anos na Tupi, passado pelas TVs Rio, Paulista, Continental, Record e Excelsior, desde sua estréia.Alguns passos foram dados.
A novela diária, unidade de programação em toda a rede, um visual gráfico mais caprichado... Mas a má administração começou a jogar no brejo o que parecia uma nova era. Voltou para a Tupi-Rio, com Chico Anysio de quem era diretor. Lá trabalhou diretamente com Boni, que era diretor artístico do programa de Moacyr Franco e ainda trouxeram Bibi Ferreira.Foi um túnel do tempo, o estúdio Um estava pior, jamais ele lembraria os tempos de fausto no cassino.
Daniel e Boni queriam fazer algo decente, com nível internacional, mas isso gerava muitas brigas, pois um queria fazer mais que o outro, e a situação tava beirando a indigência, salário atrasado nunca pago em dia, sempre um vale correspondente ao salário de três meses atrás, queria sair, pois estava prestes a perder um apartamento que havia comprado, por falta de pagamento.Boni teve uma proposta da Globo, a pequena estação que começava a aparecer, após uma boa campanha oportunista com a queda do viaduto Paulo Frontin.Como Boni e Daniel já estavam na safra da briga, resolveram fazer uma aposta valendo uma caixa de uísque Black Label, Boni dizia que não ia para a Globo, e acabou perdendo a aposta, pois dois meses após lá estava ele, deixando Daniel com o contrato chegando ao fim, sem receber e vendo o barco afundar, e além de não pagar a caixa de uísque.E numa dessas vindas para a Tupi para ver se conseguia receber os atrasados, Boni encontra com o pai de Daniel que havia tornado seu assistente, e pediu para que desse o seguinte recado: -Segunda a feira as 4 da tarde espero seu filho na Globo.
Conforme o combinado Daniel compareceu a Globo, ficou maravilhado com aquele lugar que acabara de começar na mídia, ele foi conduzido por uma linda secretária até a sala de Boni, que o - convidou para trabalhar novamente juntos, claro que ele aceitou a proposta e enquanto caminhavam juntos pelos corredores, ele conhecia os estúdios, o que está sendo gravado no estúdio. Um lindo telecine pensou com ele “Agora vai dar!!!”.
A estratégia de Boni trazendo atores paulistas funcionou, mas eles queriam trazer homens para ver novelas, e com Irmãos Coragem de Janete Clair foi definitivamente o ingresso do homem assumindo que assiste novela. Os dois haviam conseguido a hegemonia nacional, durante o ano em que irmão coragem ficou no ar, Daniela assumiu a direção da dramaturgia da Globo .O jogo de temas específicos para cada horário começava a tomar forma, a leve comédia romântica das 19:00 e a novela drama-amor das 20:00.A Globo formava um time de autores de primeira como Domingos de Oliveira, Vicente Sesso, Walter Negrão....entre outros.
O sucesso de um horário desafiava o outro, quebraram a cara, acertaram, mas nunca pararam, aprenderam que ma guerra da audiência não estava ganha. Era preciso ter constante atenção.
Gilberto Braga o procurou em um clube, se apresentou, na época era crítico de teatro respeitado e temido, queria entrar para a TV para escrever “Caso Especial”, Daniel colocou-o juntamente de Vianinha que pacientemente trabalharam junto o roteiro durante meses. Finalmente em 73 “Praias desertas” marcava a estréia de um dos grandes autores de novela, ele ainda seria parceiro de Janete e Lauro César.
Esse é um exemplo de como iam colocando sangue novo e alimentando a faminha fábrica de novelas. Estava criada a escola de autores.
Daniel continuou a dirigir algumas novelas, dirigia os primeiros vinte capítulos e passava para outro diretor a tarefa de continuar. Era colocar em termos industriais uma marca de qualidade e o deixar ativo. Todos eram cúmplices ninguém era culpado ou vencedor, era uma equipe.
A que Daniel considera sua última novelas foi “Dancin’days”, a partir de um “Caso especial”, de Paulo Mendes Campos dirigido pó Paulo José, Boni achou que daria para fazer um seriado mensal, mas pensou direito e disse: - E se em vez de uma vez por mês, fizéssemos 4 por semana?Já que a novela das 22 estava enfraquecendo e a séries americanas estavam dominando, então eles queriam uma coisa brasileira, e como Daniel estava sempre atrás do seu “cineminha”, concordou em fazer o seriado, mas para isso ele foi criticado por vários amigos que diziam que ele estava entrando numa fria, mesmo assim Daniel não deu ouvido e em 1979 estreavam “Aplauso”, “Plantão de polícia” e Malu Mulher. Em 1982 uma equipe de TV sueca foi até a casa de Daniel para que ele lhe concedesse uma entrevista sobre o comportamento das mulheres, por causa do êxito de Malu Mulher naquele país.O seriado era sucesso mundial.
Outra paixão de Daniel além de novela era a música, pensava porque o cantores quando apresentavam- se em shows e teatros não tinham a mesma comunicação que na TV?, mas isso era porquê na TV era playback e não ao vivo, então ele teve a idéia de fazer música ao vivo na TV, e com isso nasceu “Os grandes nomes”que obteve dois anos de pura satisfação, começou com Simone e foi embora, Elis Regina, Caetano, Gil, Gal, Rita Lee.....entre outros nomes de nossa música popular brasileira.
Em 1991 após 25 anos na Rede Globo, Daniel achava que era a hora de pedir suas contas, sua saída foi gentil, com festas de despedida e promessa de pronto retorno.
Daniel queria independência e sob a direção de Roberto Muylaert, conseguiu finalmente filmar um seriado em 16 mm. Era algo próximo do cinema. Foi a “Confissão de adolescente” que foi vendida para a TF1, francesa como a produção do segundo ano da série.
Sua “penúltima” produção com Boni foi “Mulher” filmada em 35mm, em cores , som estéreo, apesar do processo cinematográfico, não era “cineminha” , era televisão.Teve 62 episódios de 45 min, sendo os dois últimos em HDTV.
Fonte: 50 anos de tv no Brasil
Editora Globo

Um comentário:

Márcio disse...

Da série "Recordar é viver...". daniel é fundamental para a TV brasileira. Talvez até mais que o próprop Boni.